Blog da Raquel

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12 de março de 2016

Festa no outro apartamento

Anos atrás a cantora Marina compôs com o irmão dela, o poeta Antônio Cícero, uma música que dizia: \"eu espero/acontecimentos/só que quando anoitece/é festa no outro apartamento\". Passei minha adolescência inteira com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar, porém eu não havia sido convidada.

 

Até aí, nada de novo. Não há um único ser humano que já não tenha se sentido deslocado e impedido de ser feliz como os outros são - ou aparentam ser. O problema está em como a gente reage a isso. A grande maioria que espera \"acontecimentos\" fica ligada demais na festa do vizinho, se perguntando: como fazer para ser percebido? A resposta deveria ser: percebendo-se a si mesmo. Mas é o contrário que acontece: a gente passa a se vestir como todo mundo, falar como todo mundo, pensar como todo mundo. Só então consegue passe livre: ok, agora você é um dos nossos, a casa é sua.

 

As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação tão infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias de jornal. As pessoas alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.

 

É preciso amadurecer para descobrir que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro não costumam ser revelados. Pra consumo externo, todos são belos, lúcidos, íntegros, perfeitos. \"Nunca conheci quem tivesse levado porrada, todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo\". Fernando Pessoa sacando que nada é o que parece ser.

Por Martha Medeiros

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Tendemos a pensar que a grama do vizinho geralmente é mais verde que a nossa, não é?!

 

Com as redes sociais bombando 24 horas por dia, conseguimos acompanhar a vida dos nossos conhecidos, familiares, colegas de trabalho, amigos de infância e de outros que nem sabemos por que temos adicionado.

 

Perdemos muito tempo observando a vida alheia e, muitas vezes, esquecemos de olhar para a nossa. Quando nos damos conta, passaram 30 minutos, 1 hora. Sábado à noite olhando o Facebook...Poxa! Só eu que estou em casa hoje? Parece que o mundo está se divertindo lá fora, viajando, felicidades mil!

 

Não se iluda!

 

Como bem escreveu a jornalista e escritora Martha Medeiros, todos nós temos motivos para comemorar e também dificuldades para lamentar. Ao longo da vida vivenciamos momentos que geram imensa felicidade e também frustrações que nos deixam baqueados.

 

Tudo tem um tempo de começar e terminar, a vida é movimento. Essa é a graça! Os altos e baixos nos fortalecem, nos fazem gratos pelos privilégios que temos.

 

Portando, observe a vida dos outros com moderação. Se dedique à sua, com todo amor e cuidado possível.

 

Tendo a certeza de que nem tudo são rosas, nem mesmo para os vizinhos, siga em frente fazendo descobertas incríveis sobre o que realmente importa: você!

 

Um beijo,

 

Raquel







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